A greve dos docentes federais necessita de ampla solidariedade e apoio
Editorial da edição 485 do Brasil de Fato
O programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão da Universidade Federal
(Reuni) expressa a contradição das atuais políticas públicas. O governo federal
investiu R$ 8,4 bilhões na expansão e reestruturação das universidades federais
desde 2003. Dessa data até 2011, as vagas anuais de ingresso na graduação mais
que dobraram nas federais, passando de cerca de 110 mil, em 2003, para mais de
230 mil em 2011. O aumento das vagas de ingresso impactou no número total de
matrículas em instituições federais, passando de 638 mil para mais de 1 milhão
(2003-2011). Através do Reuni, foram criados 2.046 novos cursos. Além de
possibilitar a contratação de professores, ampliou o ingresso da juventude,
especialmente da classe trabalhadora no ensino público.
Mantido o Reuni, a previsão é que até 2014 o Brasil tenha um total de 63 universidades
federais, com 321 unidades distribuídas em 272 municípios que nunca tiveram
acesso ao ensino superior público.
Após 13 anos tramitando no Congresso Nacional, foi aprovado, dia 6 de junho de 2012,
na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), o projeto de lei da
Câmara – PLC nº 180/08 – que reserva no mínimo 50% das vagas das universidades
públicas e escolas técnicas federais para alunos do ensino médio oriundos de
escola pública.
O projeto prevê que no universo das vagas disponíveis nas universidades e escolas
técnicas públicas federais, 50% das vagas devem ser preenchidas por estudantes
oriundos de escola pública, que tenham cursado integralmente o ensino médio
nessas instituições. Os outros 50% são de livre concorrência.
Dentro dos cotistas haverá dois outros recortes: um deles será o ajuste de cor e raça,
conforme os critérios estabelecidos pelo último censo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) da localidade/região que se encontra a
universidade ou escola técnica. Outro recorte será o social: das vagas
disponibilizadas aos cotistas de escolas públicas, 25% delas são destinadas a
pessoas com renda familiar igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita. Os
outros 25% serão destinados aos cotistas com qualquer renda.
Porém, todo esse avanço e investimento, fundamental quando comparado com o desprezo e
desmonte que o ensino público enfrentou no governo neoliberal de Fernando
Henrique Cardoso é ainda insuficiente e incompleto, principalmente por não
destinar recursos condizentes que valorizem os salários e as condições de
trabalho dos docentes federais. Para garantir que o ensino público seja de
qualidade e referenciado nas demandas da sociedade, é necessário que a política
educacional do governo esteja voltada para a valorização dos trabalhadores da
educação, com a implementação de um plano de carreira e condições de trabalho
dignas.
A greve deflagrada pelos docentes federais, que cresce e ganha apoio em todo o
país, é parte decisiva da luta pelo ensino público e gratuito de qualidade. A
greve que já atinge 51 instituições federais de ensino deve arregimentar novos
servidores com a adesão dos trabalhadores técnico-administrativos em educação
nas universidades federais e os funcionários federais do setor de geografia e
estatística. Nos próximos dias, os servidores do Judiciário Federal e do
Ministério Público da União prometem cruzar os braços. Na mesma data, os
servidores federais da educação básica, profissional e tecnológica também devem
paralisar os trabalhos.
Além das questões salariais e da cobrança por reestruturação das carreiras antes da
realização de novos concursos públicos, os servidores federais também protestam
contra a Medida Provisória nº 568/12, em tramitação no Congresso Nacional. A
norma muda o cálculo dos adicionais de insalubridade e de periculosidade, além
de alterar a carga horária de médicos e outras categorias que possuem jornada
estabelecida em lei. A medida atinge diretamente os 48 mil médicos vinculados ao
serviço público federal que, diante da possibilidade de redução significativa de
seus ganhos, podem abrir mão de suas funções, gerando lacunas nas equipes já
reduzidas que atendem nos consultórios e hospitais e que se ocupam da formação
dos estudantes e residentes.
Na Universidade Federal de Juiz de Fora, 40 coordenadores de curso foram exonerados
de suas funções por aderirem à greve, num ato que se enquadra no crime contra a
organização do trabalho e afronta a Constituição Federal. Uma situação
inadmissível que não pode ser tolerada.
A greve dos docentes federais necessita de ampla solidariedade e apoio. Sem
assegurar salários e condições de trabalho dignas aos servidores federais nenhum
investimento na ampliação de vagas será suficiente.
Fonte: Brasil de Fato (13/6/2012)
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