Iniciada no dia 17 de maio, a greve das instituições federais de ensino superior já conta
com a adesão de 54 universidades, segundo levantamento feito na última
sexta-feira. A principal reivindicação dos docentes é a reestruturação do plano
de carreira, cuja negociação estava prevista para ocorrer até o final de março,
além de melhoras na infraestrutura das instituições e melhores condições de
trabalho. Embora a suspensão das atividades tenha deixado em aberto a situação
do calendário acadêmico em algumas universidades, formandos de muitas faculdades
reconhecem a reivindicação dos professores como válida e até integram
mobilizações contra a falta de assistência estudantil pelo governo federal.
Na Universidade Federal Fluminense (UFF), por exemplo, que interrompeu as
atividades no dia 22 de maio e é uma das cinco instituições que aderiram à
mobilização no Rio de Janeiro, o formando do curso de Direito Allan Sinclair, de
23 anos, apoia o briga dos docentes. "O governo tem se mostrado muito difícil em
relação à negociação com os professores. Há desrespeito com a classe. Mas a
perspectiva é que, em breve, haja diálogo e a gente possa ter melhorias não só
para os professores, mas também para os estudantes", afirma. Para Allan, que já
foi aprovado para o mestrado, a paralisação deixou pendente a apresentação da
monografia, o que ele avalia como um efeito não muito sério para a conclusão do
curso. "De alguma forma, ela afeta a todos: alguns concluintes estão cursando
matérias no último período, por exemplo, e para eles, o problema é maior",
observa.
Apesar da suspensão do calendário acadêmico da UFF, Allan conta que o Centro Acadêmico
do Direito discutiu, em conselho realizado na semana passada, a adoção de
mecanismos alternativos para amenizar os efeitos negativos da greve sobre a
conclusão dos estudos dos formandos - alguns dos quais já foram aprovados no
exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A proposta ainda está em
deliberação pelos conselhos superiores. "Por diversos fatores, existem
estudantes que não entendem a greve como algo positivo e acham que ela pode
prejudicá-los, principalmente aqueles que estão no fim da faculdade. Os que
estão no começo têm uma adesão e um posicionamento bastante próximo ao Centro e
ao Diretório Acadêmico, tendo a greve como legítima", conta Allan.
A preocupação com o atraso da graduação também existe entre os estudantes da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), de Minas Gerais. Trabalhando em tempo
integral e cursando apenas uma disciplina optativa à noite, o formando do curso
de Ciências da Computação Luiz Gustavo Faria, de 23 anos, diz que não teve a
rotina muito alterada pela greve, mas ficou chateado com o atraso da conclusão
do curso. "Meus colegas, que fazem mais matérias, obviamente foram mais
prejudicados, e vêm reclamando bastante. Eles também estão na expectativa de se
formarem neste semestre e, além disso, temem que a greve prejudique o andamento
das disciplinas", afirma. Segundo ele, as reclamações mais recorrentes são sobre
a necessidade de reposição de aulas no final do ano, na época dos feriados.
A UFU decidiu pela adesão à greve em reunião docente no dia 15 de maio e
interrompeu suas atividades por tempo indeterminado no dia 17. Entre as
reivindicações dos professores, estão a reestruturação da carreira e a
implantação do piso de R$ 2.329,35 com percentuais de acréscimo relativos à
titulação e ao regime de trabalho. "Fico na torcida para que os alunos sejam
prejudicados o mínimo possível, e que a greve alcance seu objetivo", afirma Luiz
Gustavo. O estudante se diz favorável à paralisação, pois aparentemente é a
única forma de os professores terem suas reivindicações atendidas, mas conta que
nem todos aderiram à greve e alguns cursos, como Ciências da Computação, estão
parcialmente interrompidos. "Os alunos que moram longe da família para estudar
na universidade acabam tendo que ficar na cidade por conta de pouquíssimas
matérias", afirma.
Greves estudantis manifestam insatisfação dos alunos
Além da mobilização dos professores, assembleias estudantis votando a paralisação das
atividades por parte dos estudantes vêm ocorrendo em muitas universidades
participantes da greve, como a Fundação Universidade Federal do Rio Grande
(Furg), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de
Brasília (UnB). Na UFF, um encontro realizado no dia 21 de maio reuniu cerca de
700 estudantes e implementou greve estudantil em apoio aos professores,
manifestando a insatisfação dos alunos com o corte de verbas destinadas à
educação pelo governo e a precariedade do processo de expansão de diversas
universidades federais. A mobilização dos estudantes também pretende resgatar
questões já levantadas junto à reitoria que ainda não foram atendidas. A adesão
dos técnicos administrativos da UFF à paralisação já está prevista para o final
da semana.
O formando Allan Sinclair considera a positiva a manifestação estudantil. "Tenho
certeza de que é importante para mim enquanto discente apoiar essa mobilização,
não só por ser vinculado à categoria, mas ao ensino público como um todo",
afirma o estudante. A UFU também declarou greve no dia 25 e encaminharam ao
Conselho Universitário a proposta de suspensão do calendário acadêmico, para que
nenhum estudante seja prejudicado pela paralisação.
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