Ao Diretor de Jornalismo da Rede Bandeirantes de Televisão
Prezado Senhor Fernando Mitre,
Dirigimo-nos respeitosamente ao Departamento de Jornalismo da Rede Bandeirantes, cujo jornalismo é reputado como um dos mais qualificados da televisão brasileira, para refutar a opinião do comentarista Alberto Almeida, emitida no Jornal da Noite no dia 13/06/2012. [veja o vídeo]
Dirigimo-nos respeitosamente ao Departamento de Jornalismo da Rede Bandeirantes, cujo jornalismo é reputado como um dos mais qualificados da televisão brasileira, para refutar a opinião do comentarista Alberto Almeida, emitida no Jornal da Noite no dia 13/06/2012. [veja o vídeo]
O comentarista aproveita o bordão do âncora Boris Casoy para dizer
que a “greve nas universidades é uma vergonha” e começa a elencar de forma
simplista os seus argumentos. Alberto Almeida afirma que as greves
são decididas por uma minoria. As atas das assembleias que têm chegado ao
Comando Nacional de Greve (CNG) – ANDES/SN mostram que um número representativo
de docentes tem comparecido às assembleias , que são abertas e
amplamente divulgadas pelas seções sindicais. É importante frisar que os
docentes que comparecem às assembleias têm uma representatividade legítima que
não pode ser levianamente desqualificada. São milhares de professores em todos
os cantos do país que participam de discussões aprofundadas sobre o tipo de
Universidade que queremos.
O segundo argumento elencado pelo comentarista é que cursos de Engenharia,
Medicina e Direito nunca param. Uma conferência in loco, papel do bom
jornalismo, desmentiria essa afirmação. A ampliação do número de cursos e de
campi no Brasil afora (o que defendemos), mas feita sem o devido planejamento (o
que criticamos), tem deixado vários cursos em precárias condições de
funcionamento - cursos sem laboratórios, sem professores, prédios inacabados-
alguns tiveram inclusive que retardar o início do semestre letivo. A
precariedade das condições de trabalho atingiu níveis tão alarmantes, que os
cursos de Medicina e Direito também aderiram ao movimento paredista.
A verdade é que a desvalorização, por parte do governo, do trabalho docente e da
dedicação exclusiva ao ensino, pesquisa e extensão, leva muitos professores
desses cursos a procurarem na iniciativa privada complementos salariais. A
necessidade de buscar outras fontes de renda precariza as condições de trabalho
do professor e pode comprometer a qualidade do Ensino.
Ignorando o direito constitucional, através do qual os trabalhadores têm na greve um
instrumento legítimo de reivindicação dos seus direitos, o comentarista diz que
as greves dos professores são remuneradas. Todo professor ético, compromissado
com a educação de qualidade, repõe as aulas que não foram dadas durante a
paralisação, portanto, recebe pelo seu trabalho. Vale lembrar que os professores
só consideraram a alternativa da greve depois de dois anos de tratativas com o
governo que não resultaram em cumprimento de acordos assinados.
Acrescentamos ainda que o próprio momento da greve é tempo/lugar de reflexão sobre a
Universidade, seu papel na construção de cidadania e análise crítica
sobre os rumos da Educação. As aulas de cidadania
que têm sido ministradas nas praças e anfiteatros demonstram que outra
Universidade é possível, viva, pulsante, participativa.
Temas fundamentais como a discussão sobre os modelos produtivistas
exigidos pelas agências de fomento (CAPES, CNPq, entre outras), a reflexão sobre
as formas de democratização da gestão das Universidades, tem estado no centro
dos debates feitos durante essa greve. O apoio maciço dado pelos estudantes,
vários deles também votaram pela greve no segmento discente, comprova que a luta
pela valorização do trabalho docente é também uma bandeira empunhada por eles.
Alberto Almeida termina por dizer que esta é uma greve conveniente e que não dá em nada.
As greves não são convenientes, todos os docentes, estudantes e técnicos
administrativos que estão envolvidos na construção do movimento de resistência
ao desmonte da Universidade pública têm trabalhado arduamente durante esses
dias. Preferíamos estar em sala de aula, prosseguindo nossas pesquisas e
orientações, executando as muitas formas de extensão. A paralisação reafirma
nossa resistência, nossa dignidade, nosso papel de educadores, conscientes de
que sem Universidade pública, gratuita e de qualidade o Brasil jamais fará jus à
condição de “gigante” que a propaganda oficial alardeia.
A partir dessas ponderações pedimos ao Departamento de Jornalismo da Band, o
direito ao contraditório. O Comando Nacional de Greve e a diretoria do ANDES-SN
se colocam à disposição da emissora no endereço e telefones em Brasília para
posicionarem-se sobre o assunto.
Gratos pela atenção,
Comando Nacional de Greve - CNG/ANDES-SN
Brasília, 20 de junho de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário