Há
mais de cem dias que não se ouve o burburinho nas escadas, aquele riso de quem esbanja
vida, mesmo tendo às vezes uma existência “severina”.
Sumiu
do ar aquele misto de tensão e tesão. Tensão para a próxima prova, o próximo
seminário, o trabalho que era para ontem. Tesão dos olhares desejantes que
salteavam degraus, driblavam colunas e furtivamente se encontravam. Há três meses a boca do mestre se fechou e foi
obrigada a vociferar em outros lugares, clamar contra os burocratas, nas ruas,
nas praças, em Brasília. Há três meses
que os olhos do menino/homem, da menina/mulher não se extasiam diante de um
saber novo, aquele estremecimento de quem vê a possibilidade de resolver um
problema, de alargar a visão critica, de sentir-se menos alienado. Ninguém
corre, para devorar um cachorro quente em dez minutos, o bar da DePê está
silencioso e triste. Os corredores são mais frios e escuros, o prédio todo tem
um ar fantasmático. Dentro dele devia pulsar vida, questionamento, criticidade.
Mesmo não sendo um primor de arquitetura, ali nos sentíamos mais unidos, mais
fraternos. Que falta faz o sorriso da Antônia, a presteza do Maurício, a boa
vontade de tantos técnicos. Amputaram nosso ano, retardaram nossas férias,
empurraram contra nossos lábios o cálice amargo do desprezo. A greve é uma
violência, e como tal deve ser sentida e vivenciada. Mas os culpados não somos
nós, docentes, alunos e servidores que amam a Universidade
O
governo, que disse não ter verba para valorizar a educação (nos ofereceu 4,2
bilhões em três anos), disponibilizou para a iniciativa privada cerca de 80 bilhões via BNDES. Empreiteiras, muitas
envolvidas em falcatruas , outros que
tão somente trocrão a razão social, farão “parceria” com o governo federal para
“cuidar” e ampliar a malha de estradas e
ferrovias. E nós lhe perguntamos leitor - educação é prioridade em nossa
“republiqueta”?
Bruno
Curcino Mota . Professor de Literatura na UFTM. Doutor em Estudos Literários
pela UNESP/Araraquara.
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